17.12.07

EM TEMPOS DE MUDANÇA

Lambuzado de ovo e farinha de trigo, dos pés à cabeça, ele chegou em casa. A tarde foi animada com muita festa e a tradicional “ovada” para quem se despede. E quantas despedidas: despedida do ano letivo, despedida dos colegas, dos professores, da escola, do ensino fundamental, daquela rua por onde passou tantas vezes, da cantina...

Mas as tarefas ainda não acabaram. Agora é encarar a próxima etapa, uma espécie de vestibular para o ensino médio-técnico. Fica na sala até o finalzinho, revendo as questões. Com o olhar atento no relógio, vai controlando o tempo que lhe resta para concluir a prova. Êta tempo danado. Ora é tão lento, ora passa tão ligeiro. E três horas e 30 minutos para aquela prova? Pouco demais. Pronto, gabarito marcado, é hora de entregá-lo para o fiscal e voltar para casa.

Voltar para casa? ainda não. A ansiedade não deixa e ele fica por ali até que: ufa, saiu o gabarito com as respostas. Seus olhinhos brilham em cada questão acertada. Discute que uma ou outra tem que ser anulada – (e não é que ele estava certo?) e fica ali, contanto, contando. Faz 36 pontos do total de 50. Será que vai fazer o ensino médio na escola federal?

Vovó, que sempre socorre os filhos e os netos com sua fé inabalável, acende uma vela invocando o Santo da sabedoria. Também, a concorrência é 54 por 1.
_ É mais que um vestibular para medicina, argumenta o candidato.

No fim da maratona, o descanso. E com ele o vazio. Meu Deus! o que está acontecendo com esse menino? Ficou dois dias assim, cabisbaixo, sem vontade. Dá nó no olhar ao ver tanta tristeza estampada nesse rostinho que caminha entre dois mundos distintos.

E agora? Quem sou eu? Parece perguntar a si mesmo e querer a resposta imediata. Grande na estatura – 1,80cm– já é um homem!?(E pensar que só tem 14 anos). Sensível, pede colo e chocolate e fica torcendo para que chegue logo o dia de sábado para comer lasanha, batata frita e bife acebolado. É mesmo um meninão fazendo esse prato.

Com um pé no que foi e outro no que virá a ser, Tiago fica assim, tocando em frente com sua guitarra e aprendendo com a palavra do poeta que diz:

De tudo ficam três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando
A certeza de que precisamos continuar
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar
Portanto, devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo
Da queda, um passo de dança
Do medo, uma escada
Do sonho, uma ponte
Da procura, um encontro
Fernando Pessoa

13 comentários:

Renata Bomfim disse...

Oi Jacinta, obrigada por sua visita ao letra e fel, por suas palavras sempre gentis.
Fernado pessoa est� corretissimo, que possamos viver o agora com responsabilidade e amor para que o futuro nos traga coisas boas!!!

sua p�gina est� linda e muito feminina...abra�os
renata

Anônimo disse...

Jacinta

Parabéns por ter feito um BLOG e inserido uma mensagem tão legal e profunda, ligada a um fato de nossa realidade familiar. Isso sem falar na sempre bem vinda poesia de Fernando Pessoa, que com poucas palavras consegue nos transmitir uma sensação de grandeza e de esperança.

Abraços de Domingos, Tiago, Leonardo e Rita.

Anônimo disse...

Fernando Pessoa é demais né...

Sempre que me pego diante de uma "dificuldade", lembro-me dele nos dizeres: "Peddras no caminho? Guardo todas...um dia vou construir o meu castelo"...

Mil beijos querida!
;)

Anônimo disse...

Ei Jacinta,

Cada vez mais vou me encantando com esse seu jeito de contar as coisas. Fui lendo assim, sentindo um jeito manso de enfrentar as mudanças que ocorrem na vida. E que desfecho.
Fernando Pessoa é o cara. Beijos pro Tiago e sorte, na federal ou não.

Cris

APPedrosa disse...

Ei Jacinta, lindo post. Ele me tocou bastante. Todos nós estamos sempre com um pé no que fomos e outo no que vamos ser, e tentando levar a vida nos equilibrando nisso.
beijo.

Jorge Elias disse...

Olá Jacinta!

Vamos então seguir os passos do grande Fernando Pessoa.
Estarei atualizando meu blog e gostaria de colocar os links dos meus companheiros capixabas, posso colocar o seu (interrogação).

Um abraço,

JEN

yuri assis disse...

jacinta, essa é minha realidade.
fiz vestibular ontem, estou prestando pra jornalismo... e morrendo de medo.
mas vou ficar só morrendo de medo mesmo...

belo texto o seu, compreendendo as nuances de quem passa por tais expectativas.

bjos!

Lunna Guedes disse...

E o que somos ontem se reflete no hoje - nesse tempo que nunca sabemos se é presente ou futuro. E quando olhamos adiante, vemos Pessoa.
Admirável mundo novo, seria assim?

Maria disse...

Vim agradecer a tua visita..
Voltarei com mais tempo, já que hoje... tá mau mesmo....
Adoro Pessoa!

Beijo

Mariana disse...

Olá Jacinta, seja bem vida ao Maryland!!! Obrigada pela visita e apareça quando quiser.
Estou viajando por isso não tenho entrado muito por aqui, mas essa semana quando chegar em casa vou dar uma boa passeada aqui pelo Florescer, já deu pra ver que tem muita coisa boa.
E quando ao meu Mengão, seu irmão só fez a coisa certa ao sair de casa para torcer esse time é emoção e paixão!! Vale a pena!!!!
Volte sempre ao Maryland!! E eu estarei por aqui sempre que puder, será um prazer.
Um beijo, Mariana.

Alisson da Hora disse...

Belo lugar, bem mais florido que o meu.

voltarei mais vezes.

abraço

a.h.

Anônimo disse...

Hola, menina florida!
Cuméquitá aí em Vila Velha?
É sempre bom podermos pensar e falar o que quisermos! Espero que seja sempre assim!
Beijo!
Urbanóide.

Friendlyone disse...

Oi, tudo bem? Ao retribuir a visita não imaginei encontrar tão belo texto.

Há braços!
:-)))