5.12.17

DECLARANDO O MEU AMOR À VIDA

Foi Assim: Numa manhã ensolarada de primavera, o pai não fora pra  lida. Logo cedo, ao saber que seria naquele dia, foi buscar a comadre, bem ligeirinho. Com a tranqüilidade que lhe era peculiar, e, encontrando sua mulher imersa no banho de conta de lágrimas, segurou-a pelos ombros. Ela, entregue ao toque da comadre Rita que lhe aplicava um bálsamo, fazendo-lhe movimentos vigorosos na barriga, preparava-se para o grande momento.  Era 29 de novembro. Eu estava como uma flor em botão. Pronta para ir ao encontro da luz.

Então nasço. Sou parida em explosões vertidas em água,  sangue, suor, lágrimas e contentamento. Do útero aconchegante faço a travessia para o desconhecido. Nasço menina, junção do Amor de Maria e Joaquim, minha mãe e meu pai. Desde então, quantas manhãs de 29 de novembro já se passaram: manhãs ensolaradas, chuvosas, nubladas... com lágrimas e sorrisos, contentamentos e dissabores.

Já Percorri muitos quilômetros. Criei o caminho, venci obstáculos e todos os dias, descubro a trilha e faço o passo. Faço-me Ser vivendo em minha vontade, existindo, participando das experiências do que sou, desenvolvendo-me. Muitas vezes me desorganizo, experimento o vazio, tropeço e caio. Entristeço-me.

E, mesmo entristecida, sei que o Amor é maior. Sem Amor essa história não aconteceria. Então, paro, escuto os cheiros, os gostos... observo o lugar, o olhar e o sentir. Alegro-me, encontro de novo o caminho... e sigo, vou caminhando, percebendo-me, na paisagem da vida, como a singularidade da água que corre – passando, sendo – fazendo-se no instante que não mais se repetirá.

Centrada, sinto-me pronta para enfrentar as adversidades, declarando o  meu amor à Vida  na sua amplitude. Amo-te VIDA.  Amo-te, sete vezes sete, sentindo a música que chega  e acaricia o meu coração. Amo-te no encontro de pessoas que se querem bem. Amo-te Vida que me faz viajante em sopros de tempo “que nem dá um segundo”.
Amo-te vida que me faz vida na “dança da vida”. Amo-te vida que me faz  Mulher, irmã da lua, filha da terra que me faz Ser. Amo-te vida que me faz corpo, morada do universo. Amo-te Vida que me faz engravidar de mim mesma fazendo “morrer a morte” e renascer, em mim, sempre viva. Amo-te.

Tornando-me mulher, vou escutando no olhar de um para o outro, a identificação de busca pelo entendimento de mim nas mudanças que percebo em cada (re) nascer. Tornando-me gente, vou aprendendo e apreendendo, fortalecendo minha caixa de força e nascendo por mim mesma. Agora, no instante que me faço Ser, permito-me, também, ser parida pelo encontro, pela beleza, pela urgência de viver e viver bem.

Aqui, caminhando com o grupo, Sou puro coração. Pulso desejos e - alegria de viver, conviver - é o que quero, reaprendendo a arte de me aproximar com a espontaneidade, simplicidade e confiança de uma criança, na mulher que Sou.

Agora, há em mim, uma criança querendo misturar peraltices com seriedade. Em mim, há uma mulher sonhando em incluir na vida, a satisfação de pular amarelinha. Há em mim uma criança que dança no compasso da brincadeira. Em mim, mulher e criança se misturam e sonham: Sonham com o dia em que haveremos de cultivar - nos canteiros do coração - o sentimento de PAZ.

Jacinta Dantas

3 comentários:

Anônimo disse...

Mana

Seu texto está excelente. Eu costumo dizer que este tipo de texto é uma poesia narrada, que também é um jeito de se fazer poesia. Lembra-me Clarice no fervor, esmero e precisão das palavras bem colocadas, sentidas, paridas. Sim, paridas, porque todo texto é um parto, menos ou mais doloroso. Mas este é de uma alegria e serenidade como a celebração da vida, dos novembros de incerteza que lapidaram seu jeito de ser e de sentir o mundo, tornando-o muito melhor naquele 29 de novembro em que você foi trazida à luz. Parabéns! ;Não tive e nem ousei tirar uma vírgula sequer do lugar, tamanho é a singeleza e singularidade do seu texto.

Evandro Dantas

John Doe disse...

interessante pra mim é notar que apesar de tudo mudar, algumas coisa não mudam, e se mudam, o fazem pra melhor... eu mal sabia o tanto que senti falta de palavras belas assim...

Lindo texto, palavras do jeito que eu lembro, só que melhor...

*andorinharos@ disse...

Jacinta!

Somente hoje tomei consciência dos seus lindos comentários, em meu blog, em alguns trabalhos. Vim te agradecer e te pedir desculpas por ter negligenciado teu carinho e atenção por tantos anos. Andei ausente, descrente de mim que deixei sua presença escapar sem ao menos agradecer.

Que Deus lhe abençoe.

Marisa Rosa Cabral.