Um peso estranho, que não parece ser meu, insiste em ficar por perto, rondando-me, hospedado em mim, afetando as articulações do meu olhar para o mundo. Estou doída, doendo dores em minha expressão facial que parece carregar a dor de ver tantas situações dolorosas, dores sentidas de diversas formas em corpos adoecidos no conflito e no confronto do mau encontro com tantas fomes, violência... solidão... De longe, vejo o velho, a passos lentos, obedecendo ao seu tempo, caminhando em direção à igreja para a trezena de Santo Antonio. Não imaginava que, em instantes, veria o entrelaçamento na linha de vidas na tranqüila rua, em frente ao meu pouso seguro. Acenando-me com um sorriso metálico, o rapaz que noutro dia era um menino, sai de sua casa e vai a passos largos em direção ao seu destino. Mas, nessa noite, não adianta a pressa, pois para o jovem e para o velho não haverá aula nem reza. Em poucos passos caminhados, o jovem é surpreendido e, impotente entrega seus pertences a dois assaltantes. A polícia é acionada e imediatamente sai em disparada conflitando com a lentidão do velhinho que tempo não teve de se desviar do caminho – e foi jogado ao chão com toda a brutalidade do choque entre o potente carro e seu frágil corpo de 88 anos: E eles só queriam passar pela rua e se preparar para o futuro, estudando ou rezando. Mas, numa noite de mau encontro, o encontro com a dor, sob o meu olhar perplexo e impotente, exausto de me ver “cativa de tantas dores”.
32 comentários:
De página em página cheguei ao teu espaço. Gostei muito.
Escreves muito bem.
Parabens. Voltarei
Escrita dorida esta, transbordante de sentimento. Deixo-te um beijo e a perplexidade do meu olhar sobre o que descreves.
Resta desejar a libertação. Texto forte, denso, chega a precisar de uma pausa para uma reflexão no final. Gostei deveras.
Abraços caríssima e bom fim de semana...
Cada palavra tem um peso próprio. E dá pra sentir cada um deles na formação da cena. Que escrever seja um alívio tão grande para você quanto é para a gente refletir.
Jacinta.
Tantas dores acumuladas em nossos olhos, em nossos ombros, pela impotência de sermos espectadores de um mundo em conflito, onde a violência já não respeita ninguém. Um texto belíssimo criado pela feiúra de um tempo que ainda não estamos preparados para enfrentar.
Beijos.
Puxa,o texto é triste mas assim é a vida...
Um beijo e bom final de semana!
Abraço fraterno, amiga. É verdade, o futebol é um dos mitos modernos: rituais, celebrações, batalhas, vencedores e vencidos...e muito, muito fanatismo dos seguidores de cada pavilhão. rsrsrs
Volte sempre ao Eu-lírico.
Ah, teus textos são sempre profundos e nos levam um mergulho em nossa consciência...
Jacinta,
Os sensíveis, como você, sofrem com a situação deste mundo cada vez mais violento, desumano e sem perspectivas de melhora, e produzem textos que, à medida que nos chocam, nos levam ao encanto pela qualidade do relato. Um grande abraço.
Que texto forte, triste, sensível, tudo ao mesmo tempo. Parabéns. Beijo,
Ana Paula
existe umas dores horríveis, ruins de se se viver...rs
ainda existem aqueles que não se sensibilizam com as dores dos outros, como se só as suas fossem passíveis de comoções, e vc querida amiga tem e demonstra sensibilidade pelos poros. Bjos encantado por saber que no mundo ainda existe pessoas sensíveis, como vc.
OLá Jacinta, gostei muito também do "Por hora, vou tomar um café. O final mostra o quanto nos faz bem uma boa leitura...
Bom final de semana para você ok...parabéns pelo modo todo particular de libertar os sentimentos.
Seu texto me fez lembrar Drummond. Pela competência em transformar um fato do cotidiano em poesia. Pela habilidade em transformar dor em beleza. Pela sensibilidade que faz dos seus os nossos sentimentos. Vou te plagiar e talvez com mais propriedade: gosto de te ler!!!
Um beijo. Um carinho.
Ao que me parece estamos vivendo momentos muito parecidos. As dores sentidas aqui, são tão psicológicas quanto às daquele personagem de "o nada". As brutalidades do mundo e suas rasteiras, nos faz olharmos demais e fazermos de menos, nos faz inúteis, nos faz velhos e nos faz impotentes. Somos "grãos de arroz" não tenho dúvida, somos bodes expiatórios em um mundo que não é nosso, no mundo que só é feliz quem vive de fantasias, num mundo que nos permite pouco a felicidade e nos endurece quando deixamos que assim seja. Prefiro viver a realidade e lutar pra que, como esse grão que sou, possa florescer e dar frutos num mundo tão carente de flores e frutos sãos. Parabéns belo texto! Um beijo!
Pois é, amiga, a vida tem tb os seus entrelaçamentos de dor e de saudade.
Muito boa a frase do Drummond!
Um beijo de saudade...
Jacinta!
Viver é uma experiência única, estarmos na posição triste e impotente de espectadores, traz-nos a dor, inclusive física(a mais suportável)!
Bom fim de semana!
Beijos
Confesso que me emocionei ao ler-te! Entendo-te até à alma.
Beijinhos e até breve.
Ainda se pode contrapor um dique a essa corrente destruidora, diz Garaudy, em seu Apelo aos Vivos. Eu creio que ainda podemos salvar o planetinha azul e luto por isso.
Abraçamigo e fraterno.
O que te aflige o que te dói.. tem sido também a minha dor a minha aflição, até o meu medo ... qual mundo espera a minha filha quando ela já for adulta e eu não estiver mais por perto, tentando protegê-la?
Como sempre um belo texto, muito bem escrito, vale uma reflexão profunda.
Um beijo e o desejo de dias melhores, para todos nós.
Muito legal o seu blog, ando maravilhada com essa possibilidade. Tenho descoberto tantas coisas e o seu blog é mais uma descoberta. Muito legal mesmo.
A vida passa pelas janelas de nossa alma. Nem sempre este filme é bom e a realidade brutal nos faz reféns. Que seu olhar seja amenizado pelas flores do jardim e que haja mais amor no coração dos homens...
Beijos!
Ótimo seu blog, valeu muito vir aqui.
Maurizio
sinistro e devastador, obrigado pela visita.
Jacinta, querida, seu conto se aproxima da realidade de forma perigosa e atravessa a rua sem respeitar os pedestres... Beijos e tenha uma linda semana. (Desculpe-me a demora em lhe visitar - tive problemas com meu computador).
Nossa, que lindo Jacinta!
"Um peso estranho, que não parece ser meu, insiste em ficar por perto, rondando-me, hospedado em mim, afetando as articulações do meu olhar para o mundo"
Adorei...
bjos e linda semana
Lindo texto, apesar de descrever um fato tragico... realmente gostei muito do teu jeito de escrever...
Violência e mais violência... Não há anjo que aguente!!!
Este texto de tão duro eforte chega a ser romantico e poético. Parabéns!
Adorei a sua visita e agora mais ainda do seu espaço...
Vou vir aqui outras vezes...
Tenha uma linda semana!
Bjs
É uma pena que nem sempre possamos escrever textos recheados de bons sentimentos, pois a vida não é feita só deles.
Meu Convento foi postado, apareça para conferir. Abraço!
Aprendi com o passar dos anos ( e isso é ainda mais doloroso ) que a dor existe para nos fortalecer, para nos ensinar e mesmo assim, mesmo sabendo dessas coisas não deixa de ser menos doloroso...
Ótimo Blog, adorei *.*
Triste mas muito emocionante. Triste!
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