EXCESSO
Penso muito, ajo pouco. Misturo-me às coisas, vou fazendo ao nível do pensamento e não realizo. Canso-me de fazer sem fazer. Tantas coisas a serem mudadas e, sem saber o que fazer, faço-me companheira do silêncio... Hoje, sem pensar, fui cortando tudo o que estava seco. Quase nada sobrou. Num canto, restaram a brasileirinha (um tanto frágil), a dama da noite e um cacto como sobreviventes. Sofreram com o excesso de água, mas estão lá, recuperando-se com altivez. Acho que ainda vão florir. Os outros não resistiram. Tomei coragem e fiz o que eles pediam – deixei que eles caíssem e os misturei à terra para serem transformados em adubo. Cortei, também, os secos cabelos castigados pela ansiedade. Depois me lembrei que a lua é minguante. Tarde demais, os cabelos já estavam no chão, sem vida. Melhor assim, se esperasse a lua nova iria ter tempo para pensar, e, se pensar eu faço sem fazer, penso. Agora, escutando a chuva mansa acariciando a terra fofa, sigo com os cabelos curtíssimos e os pensamentos tumultuados questionando se há excesso de carinho capaz de afogar uma vida. Sem respostas, o que faço é pensar na ausência do amado jovem – que tantos cuidados recebeu – e, inconsequente, sai por aí, exibindo na cabeça um desenho de vida sem rumo, em tortos caminhos, aventurando-se como um navegante que desafia as ondas e entra no mar sem colete salva vidas, sem água potável, sem comida e deixa-se levar num barquinho inseguro. Vejo e revejo a cena... as ondas vão se delineando na minha frente mas eu não sou capaz de fazê-lo parar. Em mim, restam sobressaltos em taquicardia e a certeza de que posso apenas no que posso: refazer o jardim que a última onda de enchente secou.
16 comentários:
Esse fazer sem fazer, me parece o apena pensar e não reaçizar, mas fizeste tanta coisa...rs
Estava sumida hein! Em compensação voltou com um lindo texto, onde a reflexão fica latente quando lemos...um abraço na alma...seja bem-vinda...rs
Que o jardim seja refeito e cuidado, para que possam ser colhidas flores até mesmo antes da primavera...bom diaaaaaaaaa
Hoje quando acordei...você foi a primeira pessoa em que pensei.
Perguntei a mim mesma: Onde andará a Jacinta?
E chego aqui e vejo uma postagem tão reflexiva quanto essa.
Eu espero que a força da natureza faça as sementes brotarem, revelando o seu lindo jardim interior!
Meu beijo carinhoso para você!
Oi, querida
Posso te garantir que excesso de amor ( na forma de carinho, por exemplo, como vc disse ) não afunda ninguém , não. Qualquer outro excesso pode ser nocivo , mas o de amor , não, nunca. Só prepara, fortalece. E se não foi bem recebido, o problema já passa a ser daquele que não estava capacitado ou pronto a recebê-lo.
Beijão.
Oi Amiga
Vc cortou mesmo seus cabelos curtinho? Ou é só metáfora?
Sabe, meu jardim bem que está precisando da sua visita... eu fico na fase do pensamento e daí... você conhece a história!
Saudades
beijo
Aff, ainda bem q vc voltou, já estava com saudade, e o seu jardim também, né? O bom é q os cactos são fortes e suas flores também, eles vão florir, verás muitas opuntias literais enfeitando o seu jardim.
Bjos
Um belo texto, com metáforas,muitos sentimentos, forte.
Me desculpe, mas me lembrou angústia de mãe.
Na medida que pensa e escreve, reflete, e muda...
abraços
Vai, jacinta.
Escreve, escreve, escreve....
E isto ai...
Pensar, escrever, elaborar... e outra vez...
mais e mais......
Beijos.
Muitos.
ação confere caráter
Até que enfim, voltou a cuidar do jardim. Sei que agora tudo vai reflorescer por aqui.
Beijo d'amigo.
Oi Jacinta,
bem vinda de volta! Gosto de vir nesse jardim, há muito não vinha,
beijo estelar*
há imenso ramos secos que não consigo cortar... decerto os deixei crescer e engrossar demais... tb penso mto em fazer e deixo algo sempre pendurado... mas projectar já e bom desde que se faça, embora certos trabalhos sejam sonhos...
ah os cabelos e a LUA quem sabe assim eles crescem lentamente mas com um brilho especial...
ás vezes até os barquinhos de papel a navegar incerto e profundo encontram o seu rumo sem se desfazerem nas águas... que o amor é sempre leve e nunca de sobra...
beijinhos das nuvens
Jacinta,
esse refazer é benéfico, mesmo revivendo todo o drama sofrido, pois nos faz mais fortes e mais decididos. Como a mistura feita com as plantas que não resistiram e pediam que fossem misturadas à própria terra para transformarem-se em adubo para a vida das outras. Com certeza elas reflorescerão. Como este espaço. Como você com seus cabelos curtos. Como todos nós.
E assim eu aviso: deixei para você, lá nos beirais das janelas, um desafio. Passe por lá, pegue-o e sigamos nossos caminhos...
Um beijo. Com meu carinho.
Ai! Obrigada pelo que escreveu. Neste momento vejo que penso muito mais do que ajo também...
E a vida vai passando, a chuva caindo, as flores morrendo, outras lutando! E a gente, com que flor nos identificamos neste jardim???
É... Vamos cuidar do jardim, podando sim o que não tem mais vida, mas acima de tudo plantando mais!!!
Com carinho da Lu
Obs.: Vc estava sumida! Por onde andavas?
Jajá!!
Cortar, podar, refazer, tudo tem o intuito de gerar o poderoso "renascimento"...
Podas são necessárias!
Observar o carinho faz parte de ambos, quem doa e quem recebe, não é demais enviá-los, mas poderá ser dependendo de quem não o valoriza com a dimensão do insubstituível...
Penso, então, que você está prosseguindo por estradas férteis, e agindo de forma determinada e valiosa!
Todos os segredos do "sucesso" formam esse adubo que escorre por entre os dedos sensíveis de suas mãos. Eis o motivo básico para agradecer a vida e acreditar que tudo serão flor e cor, som e amor, afeto e sentimentos bons...
Seja persistente.
A essência da vitória não está no ato, nem no fato, mas na "persistência" em acreditar que a vitória será sua.
Beijãozinho, carinho. PAZ! Sorrisos! e VIDA!!
Padrinhamigo declarado... rs, querida Jacinta, penso que reflorescer é força da natureza, benéfica, vez que o florescer tem prazo fatal seja no mundo vegetal, real ou no animal, metafórico e, vantagem, pod* Saudade deu e** Do que a vida vivida e observada permite perceber-se, o amor tem vários matizes que jamais, por mais que pareçam, têm tons iguais. As nuances são o elemento que amalgamam um casal. Pensar que podemos nem sempre corresponde. Excesso de água nos cactos os fenecem, são de regime magro de águas; humanos que recebem mais do que esperam podem não compreender o mais puro amor. Os que se vão devem seguir seu curso livre, é deles a orientação. Amar-se é imperativo, disto as sobras de distribuem. Mãos ideais irão estender-se. Beijos.
Jacinta,tenho certeza de que o jardim será bem refeito,com as mais
lindas flores a florescerem sempre.
É sempre um prazer vir aqui e ler seus escritos,sentir os belos versos que a sua alma declama.
Um ótimo final de domingo pra você.
Beijos
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