Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou
Clarice Lispector
9 comentários:
...vidas com nós!
Dizer o quê acerca das águas e das vidas sedentas?
Simplesmente É isto e isto é a vida nua.
Jacinta eu adorei a tua arte e nela eu vi um Bem-te-vi.
Beijos, querida.
Jacinta,no alvo. Vc conseguiu no emaranhado das letras retratar a agitação dos tempos modernos.
A água que de tão escassa não mata a sede de quem quer viver.
E o risco,ao contrário do caos das letras, está calmo, sereno, como a brisa leve que beija a face da poeta.
Oi Jacinta.
Lembrei de Caymmi:
"O amor acontece na vida
Estavas desprevenida
E por acaso eu também
E como o acaso é importante, querida,
De nossas vidas a vida,
Fez um brinquedo também!"
Acho que é por aí. Quando se tenta racionalizar, adeus paixão.
Um beijo.
Jacinta;
Neste belo e doce amaranhado de palavras, saem cores que compõeem um terno amaranhado de cores...
Estou ficando fã da sua arte.
bjs
Osvaldo
Jacinta...Você colhe trechos indizíveis! Este "estar distraído" na vida é um traço do jeito de pensar de Clarice. E já reparou que é assim mesmo? "Forçar a barra" na procura das explicações e racionalizar sensações...desmancha o encanto, como se a realidade fosse feita de nuvens.
Adoro reler fragmentos que mexem comigo...como esse...
Abraço bem apertado!
Dora
Estava c saudades de ler esse texto...é tão verdadeiro isso!
É só parar pra tentar dar nome e pronto! Já acabou..rs...
Bjssssss
Como é bom reler Clarice! Não sei como ela consegue complicar e simplificar ao mesmo tempo!
Gosto um tantão qdo vc traz recortes de Clarice. Não apenas pelo como e o que ela diz - que é sempre excepcional. Mas tb pq mostra um pouco de vc. Afinal, somos tb o que escolhemos né?
Beijocas
Postar um comentário