25.6.11

SENTIDO...SENTINDO




Em meio à tormenta  (re) sinto a perda. O tráfego  não flui e o congestionamento mostra que o excesso  depaupera o meu espaço. Percebo que não volta o que entra e sinto que meus vizinhos, dentre eles o coração e o estômago, ficam incomodados, estressados, mudam o ritmo e adoecem com o acúmulo. Atordoado, tenho consciência de que o ar  deve trafegar pela via com liberdade de entrar e sair no devido tempo, realizando as trocas com o ambiente. Troca... bonito esse jeito de viver que a vida propõe. Trocar, dar e receber – Inspirar o oxigênio e devolver gás carbônico – simples assim. Tão simples e tão complicado. E complicado se vive em tempos sem sentido. Sentido de quê?

Sou o que sou e ocupo o meu lugar em harmonia com os demais sistemas que sustentam a vida no corpo. Então, sei que também sou o corpo que tem em mim a possibilidade de expansão para o bem viver. No entanto, contraio-me ao ver o jovem, concebido e formado para trilhar o caminho do crescimento e da felicidade, ser agredido numa ação bestial promovida por outro jovem que bate sem ter por quê. De novo, o sentido sentindo a falta. Jovens, meninos ainda, numa reunião de ex-colegas de escola do nível médio, encontram-se para festejar e de repente...

_ Vou bater naquele ali.

E o que se vê é de faltar o ar que me faz funcionar bem. Garrafas quebradas, objetos roubados e o jovem ali, humilhado, sentindo um quê sem sentido a arder-lhe no corpo e na alma. Que conta é essa que não fecha? Que prazer é esse que se tem em agredir? Será esse o único modo de se mostrar vencedor diante do grupo? Mas vencedor do quê?

Na expectativa da falta, agarro-me e guardo o ar que posso, comprimindo-me e oprimindo-me, fechando as saídas. Desesperado, acumulo. Acumulo mais ar, qualquer ar e sinto-me transbordando prá dentro, entornando e envenenando o corpo que me abriga. Em mais uma crise,  tudo fica “ite”, e de novo trava-se a  luta –  de alma e corpo –  contra a tosse, o cansaço, a apatia, a impotência... na incessante busca do sentido da existência.  Será esse o sentido que falta em tempos abundantes de ofertas de felicidade?


Jacinta Dantas

15 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Cara Jacinta,
Você expõe, com o vigor conteudístico e a forma habituais, a dicotomia alma-corpo. Os reflexos no corpo de uma alma muito sensível, que se revolta contra a brutalidade, a violência. Foi o que pude apreender na leitura de mais um bonito texto seu. Nada, nada de "coisinhas" (risos). Gostei de saber que está se recuperando do problema de saúde. Um forte abraço.

lula eurico disse...

A oferta de "felicidade" ou de prazer fácil, descartável, sem vínculos tem tudo a ver com essa violência sem sentido.

Mas te deixo flores e um abraço fraterno.

Saúde e paz!

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Jacinta
"Trocar, dar e receber – Inspirar o oxigênio e devolver gás carbônico – simples assim".
Isso me fez recordar um tempo da minha vida (há 5 anos atrás)... foi fumaça preta mesmo...
Ai!!! Que alívio sinto ao ler o sue post hoje!!! Estou a respirar oxigênio puro...
Tenhamos todos a mesma sorte!!!
Felicidade verdadeira pra vc...
Bjs de paz

Paula Barros disse...

Um texto que traz a realidade, porém com um olhar e um sentir de muita sensibilidade.
Se busca algo sem saber o quê, e nessas buscas encontra-se e faz-se atrocidades, vidas perdidas, vazios não preenchidos.

abraço

Menina da Imprensa disse...

Acho que a oferta de felicidade é bem-vinda em qualquer tempo né...tão intenso, texto incrível...Lindo Blog!
Kisses

Claudinha ੴ disse...

Olá Jacinta! Há quanto tempo não venho aqui! E chego para refletir com você sobre estas atitudes sem porquê, chego para me unir aos que são contra covardias e maldades. Um beijo!

Jota Effe Esse disse...

Jacinta, parece que os seres humanos deixaram de ser, e não sabem mais que ser feliz é muito simples. Meu beijo.

lula eurico disse...

Jacinta,
e vc que não deu mais notícia...

Receba meu abraço fra/terno.

Dauri Batisti disse...

Como sempre, você escrevendo de modo tão bonito, ainda que falando de coisas tão tristes, como a violênca.

Um beijo,

lula eurico disse...

Vim só te deixar um abraço, menina do nome de flor.

Claudinha ੴ disse...

Obrigada por voltar lá... Espero que esteja bem melhor! Um beijo!

ex-controlador de tráfego aéreo disse...

Oi Jacinta!
Fazia um tempinho que não aparecia por aqui, mas vejo que voltei em boa hora.
Boa reflexão dessa realidade vazia de sentimentos e preenchida com atos primitivos e extemporâneos, carentes de legitimidade; uma pena mesmo.

Um abraço fraterno!!!

Lana disse...

Blog inteligente e mto interessante! Gostei mto! Vou seguir, ok? Abraços!!!

Ilaine disse...

Amiga!

Um texto lindo e que toca a realidade... a que sonhamos de outro modo.

Você voltou lá no ensaios. Fiquei muito feliz. Obrigada pelo carinho. Está tudo bem com você? Sentimos sua falta. Beijo

silvioafonso disse...

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Eu adoraria que você fosse a
primeira pessoa a comentar
meu post de amanhã.

Vai me dar essa honra?

Beijos,

silvioafonso





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