Flores embrulhadas para presente. Papéis brilhantes, de cores cítricas, e laços de fitas enfeitam o que nascera para enfeitar. E Margarida, sentindo-se esgotada, nem percebe o significado daquele gesto e coloca o coração de estudante no cantinho da mesa. Cansada do dia exaustivo, falta-lhe ânimo até para olhar o cartão que acompanha a flor, onde o calígrafo, emprestando seu talento àquele apaixonado coração, capricha no desenho das letras que dizem:
Tu és divina e graciosa, estátua majestosa, do amor por Deus esculturada, e formada com o ardor da alma da mais linda flor, de mais ativo olor que na vida é preferida pelo beija-flor.
Na verdade, o sentimento de frustração toma conta de seus dias. Deseja viver num mundo diferente, quem sabe ser outra, ter outra vida que não aquela, cheia de competição e de conflitos. Vislumbra a possibilidade de outras formas de vida: quem sabe ser uma estrela.
_Venha, venha, suba mais um pouquinho. Não devemos ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que existe em nós existe também na natureza, pois fazemos parte dela. Venha, arrisque-se, suba mais um pouquinho e veja...
E Margarida se deixa seduzir pela promessa e parte, sem roteiro, sem dinheiro, sem rumo, apenas confiando na intuição de que qualquer lugar lhe seria melhor. Assusta-se um pouco com o local. Perplexa, parece não merecer tamanha beleza diante de seus olhos e tanta cordialidade nas anfitriãs: todas as estrelas a chamam pelo nome e a tratam com carinho. Ali de cima, a magia prepondera naquele espaço onde o choque entre o azul e o cacho de acácias é cheio de Luz. Luz das acácias cheias de vida.
No seu passeio pelo céu, descobre que flores, também, se transformam em estrelas, e vivem na terra, como o lírio, que tem como missão o dom de devolver o corpo à alegria. Descobre, também, os jasmins que são chuvas e as chuvas, jasmins, por estes jardins de perfume e nuvens que agora cobrem seu corpo.
Encanta-se com a noite e sua dama que tem perfume de lua cheia. Uma dama saliente, fantasmagórica e um pouco assustadora para aquele coração que, entre o medo e o desejo, delicia-se de seu florescer no escondido do escuro.
Nos dias ensolarados, observa que o crisântemo, como o menino que ganha seu brinquedo preferido, é todo alegria. Admira a exuberância do girassol que por ser o grande filho do sol tem a sabedoria de virar sua enorme corola para o lado de quem o criou, como também a sabedoria de aceitar que seu talo é frágil demais e, como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação esplêndida.
Sobrevoando os trigais, percebe que a Flor do trigo, é pequenina e tem a ousadia de ser a flor que aparece em diversas formas e cores. Esperta e inteligente, ela sempre se abraça ao fruto. Juntando-se, trigo e flor formam um único coração, sinalizando que todo ser vivo se enamora no viver do outro, e juntos têm maiores possibilidades para o crescimento.
Constata que sob o brilho das estrelas ou nas noites de chuva, as flores entram na vida dos amantes que cruzam o deserto em busca de um oásis, em flor, e embelezam o encontro com ramalhetes de rosa, a mais feminina das flores. E as flores contentes com o que são, divertem-se, sabendo inspiradoras para poetas e compositores, que se entregam à paixão e ao deleite como se flor, fosse cheirada, regada, acariciada. E como flores, vivem o contentamento de participar da vida no jardim e na vida das pessoas, desde o nascimento até a morte. Generosas, são intermediárias de declarações de amor que se esvaem no momento da entrega, como uma menina em flor que se levanta e recolhe o amado no seu abraço e tudo se transforma em poesia no prazer de receber o prazer que se dá.
E nesse encontro margarida-estrela-flores, Margarida sente que realiza o encontro consigo mesma. Aceitando-se, percebe que pode conviver em harmonia consigo mesma, respeitando seu jeito de ser e suas limitações. E respeitando-se pode, também, ter melhores condições para viver bem, aceitando e respeitando o outro, pois assim como as flores, cada um tem o seu jeito de ser e de se colocar no mundo.
Alucinação? Sonho? Premonição? Quem sabe?
O que se sabe é que, saindo daquele estado ensimesmado, Margarida se lembra do arranjo de flores que ganhara. Vai ao seu encontro e, com o cuidado de mãe que toma seu filho ao colo, retira-lhe os papéis e fitas que o aprisiona e respira aliviada por devolver aquela vida para sua casa. Agora, o coração sente-se tranqüilo, sem suas amarras, livre na terra... livre para viver.
E Margarida foi dormir com a certeza de que é partícipe do todo que é terra, fogo, água e ar. E que a mãe terra dá a flor, prá que a vida dê flor e fruto que saciem, nos seres vivos, a fome – de beleza, de pão, de ternura, de amigos, de alegria, de prazer...
Recortes: Pixinguinha, Pablo Picasso, Caetano Veloso, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Caio F Abreu, Marcos Viana, Raul Seixas, Milton Nascimento, Ivete Sangalo, Vinícius de Moraes.
Na verdade, o sentimento de frustração toma conta de seus dias. Deseja viver num mundo diferente, quem sabe ser outra, ter outra vida que não aquela, cheia de competição e de conflitos. Vislumbra a possibilidade de outras formas de vida: quem sabe ser uma estrela.
_Venha, venha, suba mais um pouquinho. Não devemos ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que existe em nós existe também na natureza, pois fazemos parte dela. Venha, arrisque-se, suba mais um pouquinho e veja...
E Margarida se deixa seduzir pela promessa e parte, sem roteiro, sem dinheiro, sem rumo, apenas confiando na intuição de que qualquer lugar lhe seria melhor. Assusta-se um pouco com o local. Perplexa, parece não merecer tamanha beleza diante de seus olhos e tanta cordialidade nas anfitriãs: todas as estrelas a chamam pelo nome e a tratam com carinho. Ali de cima, a magia prepondera naquele espaço onde o choque entre o azul e o cacho de acácias é cheio de Luz. Luz das acácias cheias de vida.
No seu passeio pelo céu, descobre que flores, também, se transformam em estrelas, e vivem na terra, como o lírio, que tem como missão o dom de devolver o corpo à alegria. Descobre, também, os jasmins que são chuvas e as chuvas, jasmins, por estes jardins de perfume e nuvens que agora cobrem seu corpo.
Encanta-se com a noite e sua dama que tem perfume de lua cheia. Uma dama saliente, fantasmagórica e um pouco assustadora para aquele coração que, entre o medo e o desejo, delicia-se de seu florescer no escondido do escuro.
Nos dias ensolarados, observa que o crisântemo, como o menino que ganha seu brinquedo preferido, é todo alegria. Admira a exuberância do girassol que por ser o grande filho do sol tem a sabedoria de virar sua enorme corola para o lado de quem o criou, como também a sabedoria de aceitar que seu talo é frágil demais e, como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação esplêndida.
Sobrevoando os trigais, percebe que a Flor do trigo, é pequenina e tem a ousadia de ser a flor que aparece em diversas formas e cores. Esperta e inteligente, ela sempre se abraça ao fruto. Juntando-se, trigo e flor formam um único coração, sinalizando que todo ser vivo se enamora no viver do outro, e juntos têm maiores possibilidades para o crescimento.
Constata que sob o brilho das estrelas ou nas noites de chuva, as flores entram na vida dos amantes que cruzam o deserto em busca de um oásis, em flor, e embelezam o encontro com ramalhetes de rosa, a mais feminina das flores. E as flores contentes com o que são, divertem-se, sabendo inspiradoras para poetas e compositores, que se entregam à paixão e ao deleite como se flor, fosse cheirada, regada, acariciada. E como flores, vivem o contentamento de participar da vida no jardim e na vida das pessoas, desde o nascimento até a morte. Generosas, são intermediárias de declarações de amor que se esvaem no momento da entrega, como uma menina em flor que se levanta e recolhe o amado no seu abraço e tudo se transforma em poesia no prazer de receber o prazer que se dá.
E nesse encontro margarida-estrela-flores, Margarida sente que realiza o encontro consigo mesma. Aceitando-se, percebe que pode conviver em harmonia consigo mesma, respeitando seu jeito de ser e suas limitações. E respeitando-se pode, também, ter melhores condições para viver bem, aceitando e respeitando o outro, pois assim como as flores, cada um tem o seu jeito de ser e de se colocar no mundo.
Alucinação? Sonho? Premonição? Quem sabe?
O que se sabe é que, saindo daquele estado ensimesmado, Margarida se lembra do arranjo de flores que ganhara. Vai ao seu encontro e, com o cuidado de mãe que toma seu filho ao colo, retira-lhe os papéis e fitas que o aprisiona e respira aliviada por devolver aquela vida para sua casa. Agora, o coração sente-se tranqüilo, sem suas amarras, livre na terra... livre para viver.
E Margarida foi dormir com a certeza de que é partícipe do todo que é terra, fogo, água e ar. E que a mãe terra dá a flor, prá que a vida dê flor e fruto que saciem, nos seres vivos, a fome – de beleza, de pão, de ternura, de amigos, de alegria, de prazer...
Recortes: Pixinguinha, Pablo Picasso, Caetano Veloso, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Caio F Abreu, Marcos Viana, Raul Seixas, Milton Nascimento, Ivete Sangalo, Vinícius de Moraes.
20 comentários:
O que me resta fazer a não ser aplaudir enquanto o sorriso floresce como se pétalas fossem no rosto meu. Belo. Abraços caríssima.
Vim aqui agradecer seu comentário e, claro, que não ia perder a oportunidade de te ler! Ainda bem que não perdi, que texto divino, querida! Muito bem encaixados os recortes entre as palavras suas, tão bem escritas! E para não parecer rasgação de seda, um parabéns e toda minha admiração! Bjos
Ps: Favoritada, moça!
Lindo texto Jacinta!
Quando a gnt se aceita do jeito q é, tudo fica muito mais fácil e é tão simples né?
Olha, quero agradecer por sua atenção lá pelo meu blog, e aproveitar pra te desejar um maravilhoso 2008, que você realize todos seus sonhos e continue escrevendo sempre!!!!
Feliz Ano Novo!!!
bjs
Vejo que seus recortes, que tecem o texto, revelam uma pessoa bastansate sensível. Aliás, grato pela visita ao Balaio. Uma curiosidade: seu "Dantas" seria de origem norte-rio-grandense, por acaso? Um grande 2008 pra você. Abraços.
Jacinta,
Parabéns pelo modo como você usou os recortes. Ficou legal.
Parece que as flores em formato de estrelas serão ainda portadoras de muitas notícias boas.
FELIZ 2008!!!
Dauri Batisti
P.S. Obrigado sempre pelos seus comentários carinhosos no www.essapalavra.blogspot.com
Oi, Jacinta.
Obrigado por sua visita. Não perdi a oportunidade de visitar seu blog também. Excelente texto. Parece que os recortes foram feitos para ele.
Bjuz e feliz 2008!
Jacinta,
Obrigado pela visita ao "Luzes da Cidade" e por ele ter lhe deixado boa impressão. Chegando aqui, tive a boa surpresa de sabê-la dona de uma boa escrita e que tem o que dizer. Virei também aqui, doravante , para que possamos manter uma (para mim) frutífera interatividade. Um 2008 ainda melhor do que lhe possa ter sido 2007. Abraço afetuoso.
Belíssimo texto, belissimo passeio por tantos outros textos tão belos quanto.
abraços e bom ano de 2008
a.h.
se existe a flor certamente é porque podemos existir como flor, florir, florindo, rindo, sabendo-se, sem saber, na linha mesma de que saber sem saber é o melhor saber, então é porque, se existe uma flor, é porque, vulnerável e transitória, a vida vale a flor com flor, em flor... e então porque não florimos logo? talvez porque nos dedicamos, estúpidos que somos, a não ser flor, a massacrar todas as flores do mundo, espinhos que gostamos de ser.
feliz ano n(ovo) pra nós todos.
beijos
luis
Bela manta de retalhos Jacinta.
Tenho andado arredada das caixinhas de comentários, 4 dedos da minha mão esquerda sofreram um pequenos precalço felizmente ultrapassado. Não podia contudo deixar de passar aqui para deixar um beijo e os votos para que 2008 seja um ano cheio de tudo aquilo que mais desejas.
Um beijo grande
FELIZ ANO NOVO
Gi
Bela manta de retalhos Jacinta.
Tenho andado arredada das caixinhas de comentários, 4 dedos da minha mão esquerda sofreram um pequenos precalço felizmente ultrapassado. Não podia contudo deixar de passar aqui para deixar um beijo e os votos para que 2008 seja um ano cheio de tudo aquilo que mais desejas.
Um beijo grande
FELIZ ANO NOVO
Gi
Jacinta, fiquei muito feliz com a sua ilutre presença no PORTAL DA POESIA. Volte sempre que puder, pois é desejo da MÃE NATURA o REFLORESCIMENTO de novas amizades... É desejo, também, dos deuses da poesia a visita de tão ilustre PERSONA. Um forte abraço e o meu desejo de um 2008 muito FLORESCIDO e rico em realizações para você e todos os seus entes queridos.
interessante essa coisa de recortes. explicita aquilo que está sempre conosco, em cada texto nosso, mesmo quando a gente não se dá conta: a intertextualidade.
um beijo, Jacinta, e feliz ano novo!
Jacinta, querida, o que posso dizer diante de tanta magia & flores, que extasia esta sua nova fã de suas letras vivas? Obrigada pelos aromas de suas palavras e vista ao Letras de Morango. Beijos e feliz 2008 recheado de letrinhas com estrelas nas pontas.
Querida Menina Jacinta!!
Agradeço a sua visita, útil e importante!!
Acabo de ler o seu texto primoroso, cheio de vigor, estilo e significados.
Gostei disso, ir tecendo seu texto com outras letras, umas conhecidadas e outras nem tanto, mas que no final se completa com perfeição como o barro na mão do oleiro.
Beijão Menina.
Feliz 2008 de muitas composições de sucesso.
Lindo texto, Jacinta. E a citação de Érico Veríssimo ao lado é linda também (adoro os 'Veríssimo' pai e filho). Mudou a cara da casa para o Ano Novo?
beijo,
Ana Paula
muito lindo tudo aqui...
sobre a citação postada anteriormente
o amor é a força mais abstrata, e também a mais potente,
que há no mundo
também é a mais surpreendente...
bjos
Doce Jacinta,
Em primeiro lugar, muito obrigado por sua visita e comentário em meu humilde espaço. lendo-a aqui, entendo o porque de tanta gentileza,´pois tens na alma a nobreza de e sensibilidade de expor estas belezas que encantam a tantos, como percebo aqui. Que Deus prossiga operando este milagre divino em ti, a arte de tecer em palavras, tua poesia!
beijok e parabéns!
da fã,
Marisa Rosa
Minha primeira visita a este jardim... e já respiro, feliz, aspirando os aromas, me deleitando com as cores, das letras, linhas e pétalas! ABraços alados.
Que obra de arte esse post!!! Lindíssimo!!!
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