6.12.07


MENINA MOÇA




Imagine uma tarde de final de setembro, com o céu escancaradamente aberto. As ruas de todo o país cheia de meninos e meninas que, de cara, no sabor da juventude encaram um jeito diferente de exigir mudanças. Abusando das cores, exibem a vida no verde, a comunicação no amarelo e o azul... Ah, o azul da alegria fica por conta do céu que esbanja contentamento.

Cenário perfeito, primavera de sentimentos à flor da pele. Na ante-sala, avós, tios, papai-nervoso. Com um sorriso largo, a vovó, com seu jeito brejeiro, num tom de voz inadequado para o lugar, diz: nasceu, é menina mulher. É...

Mulher-menina que chega ao mundo e sem nenhuma cerimônia, delicia-se do aconchego no seio farto da mamãe que jorra o alimento essencial para seus primeiros meses de vida. Tudo é mágico, transbordamento de amor – é lindo de ver – mãe e filha se enamorando: troca indescritível de afetos, dádiva dos céus, face feminina de Deus.

Bebê-menina-mulher já é tempo de ir para a creche. Pela manhã, papai que mais tarde entra no trabalho, vai todo contente levá-la, e à noite, mamãe, de volta do trabalho, abre os braços para recebê-la. O “bye bye” para titia da creche é sempre cheio do contentamento de quem volta pra casa e pode gozar da companhia de papai e mamãe.

Menina-criança-mulher no ensino fundamental. Com seus olhos grandes, amendoados, observa atentamente tudo que vê pela frente e acolhe com cuidado o que recebe como base de sua formação estudantil. Na Igreja, próxima de casa, participa da preparação e faz sua primeira eucaristia, pressuposto básico para sua orientação religiosa (mamãe e vovó fazem questão). Mundo novo esse, com responsabilidades: escola, grupo de perseverança aos domingos (logo logo é hora de receber o crisma, lembra vovó), aula de inglês...

Novo mundo que se coloca com possibilidades de ganhar e perder. As perdas marcantes vêm entre o ganhar e o perder. Do festival de música, sua primeira apresentação em púbico, participa sozinha, sem nenhuma tietagem. Enquanto toca no festival, sua família cuida do ritual de despedida do vovô materno. – vovô foi pro céu?

“Brincando” ela diz que talvez o melhor fosse nascer velho e fazer o caminho contrário. – Já pensou terminar tudo num orgasmo? Pergunta sem hesitação. Leu isso em algum lugar e cogitou a possibilidade. Sinais da dor do crescimento; e dor também não falta no que marca e demarca a passagem com a menarca (assustou a todos com uma dor abdominal que a fez parar no hospital). Meses depois a confirmação: menina-moça-mulher.

Crescendo, já tem dupla jornada: 8ª série pela manhã, pré-técnico à tarde, Inglês, teclado: quantas “obrigações” que vão tomando conta do tempo nesse adolescer que sente medo de doer o caminho que faz crescer. Mudanças radicais no corpo, sensações estranhas de não ter um lugar, de estar fora de lugar, criança ou gente grande?.

Como gente grande, já se ocupa em pensar na profissão que quer seguir – jornalista quer ser e escrever e contar e informar – projetos que já vão se delineando entre os cadernos, livros, o tempo no MSN com os amigos e os bichinhos de pelúcia espalhados em sua cama.

A vida corre ligeira, e, como que por pura magia, agora adolescente-mulher-namorada. Namorada? Mas ainda é uma criança! Não, não, ainda não é hora...

Apaixonada pela vida, mulher adolescente encanta e faz progressos diários. Conquista o namorado, experimenta frustrações e alegrias: Irradia felicidade pelo espaço comemorando o primeiro lugar no concurso de inglês com sua redação de agradecimento. Segue seus passos, fazendo o caminho nesse enigmático universo feminino. É Janaína: filha-menina-adolescente-estudante-namorada, tornando-se uma linda mulher.

9 comentários:

Anônimo disse...

ah, ficou tão lindo! *-*
obrigada, obrigada, e obrigada de novo! rs
Realmente não sei como agradecer!

mostrei a minha mãe, e ela respondeu " A Jacinta escreve bem, né?"...

Continue assim, o blog tá ficando lindo!

Anônimo disse...

aaaaai, que lindo!
fiquei emocionanda lendo a história da minha melhor amiga, que acompanho deeeesde esse comecinho do texto.

tá lindo seu blog, você escreve muito bem :)

;*

Anônimo disse...

Completamente lindo, também fiquei aqui quase chorando ;)

Lídia Guimarães! disse...

E que a cada dia Janaína se torne mais e mais bela mulher!!

Flor, muuito obrigada pela visita... de coração!
^^

Sabe que aquela historinha aconteceu de verdade?
Pois é!
Eu trabalhava num colégio e era a funcionária que abria a escola para receber as crianças que chegavam mais cedo...dois deles eram Laura e Leonardo...

Num di, no pátio, eles brincaram EXATAMENTE com as palavras lá escritas... a ilha era uma mini piscina de bolinha vazia, e o coqueiro era uma daquelas vassourinhas de brinquedo, sabe?

Foi muito bonitinho vê-los brincando assim...
O tempo que trabalhei lá foi muito prazeroso... presenciei muitas cenas com as crianças...

BEIJÃO QUERIDA!
Volte sempre que quiser ao "TBC...", já é muito bem vinda!!

Fique com Deus!

Lí!
http://tobecontinueed.wordpress.com

Anônimo disse...

Lindo texto, belas palavras e que Janaína continue se tornando cada vez mais mulher bela, mulher guerreira, mulher!

Bjos e lindo final de semana!
Obrigada por nos presentear com estas belas palavras...

Gi disse...

Gostei de ler a sua Janaína, sabe bem vê-los crescer, acompanhar as suas descobertas , o abrir das suas janelas para o Mundo. Rir com eles e sofrer com eles, são os nossos meninos de ontem feitos mulher e homem do amanhã. É neles que reside a minha esperança. O nosso Futuro.

um beijo. noite feliz

Renata Bomfim disse...

Olá jacinta, obrigada pela visita ao meu Blog e pelo gentil comentário!!!
Muito bom o texto, nos faz refletir a meamorfose do feminino que explode na figura da mulher, como defende o pensador James Hilmann com sua tese do fruto do carvalho, dentro de cada menina habita potencialmente a mulher individual, assim como as mulheres de sua linhagem e as que viram a partir dela... que possamos sempre encontar terra fértil para brotarmos e florescermos, se não nasceremos na pedra mesmo!!!!
Abração
renata

Madalena Barranco disse...

Ah, Jacinta, que prosa linda você desenvolve em seu blog!!! Você escreveu com a delicadeza de uma flor e com o talento de uma escritora. Parabéns!!! Muito obrigada pela sua gentil visita ao meu bloguinho Letras de Morango. A turminha das criaturas fantásticas envia-lhe beijos e magia.

Lunna Guedes disse...

Vim aqui pra conhecer seu "universo" - sua visita pelo Acqua me possibilitou essa nova "janela aberta" e que delícia de prosa está sua que nos conduz pelos delírios que nos abraçam. Delírios? Permita-me o sorriso porque afinal, o que é este delírio se não a vida?
Beijos