15.1.11

DE NOVO, A FLOR
 Foto: Jamir Dobkowski


Desci do ônibus e resolvi fazer o restante do trajeto a pé. Ao lado do terminal rodoviário, vou caminhando e sinto outros caminhos, outros lugares que primavam pela beleza de suas montanhas e, agora, parecem um não lugar. Caminhando, tento não pensar nas fortes chuvas; caminhando, tento não pensar na devastação pois o desejo é agir. Ação; parece ser essa a palavra que falta. Ação; parece ser esse o assunto que precisa estar em pauta. Prossigo nos meus quilômetros pensantes e, de novo, ela me desperta nesse meu lugar entrecortado por canais...vários canais de possibilidades para o entupimento com coisas que são descartadas. Canais que, concebidos como valões, sofrem  carregando os dejetos jogados por mãos humanas. 


...Em meio ao devaneio, ela me acolhe: de novo a ALAMANDA se abre em sorrisos com seu amarelo, bonito amarelo circundando todo o espaço do popularmente chamado valão. De novo, a flor, contrapondo a sujeira com sua beleza, encoraja-me no seu florir, e florindo, com um amarelo tão absurdamente encantador, ela me faz escutar, no seu ato de comunicar ao mundo, que já passa da hora de se cultivar, entre as pessoas –  família-comunidade-igreja-escola-poderpúblico  –  a cultura do cuidado pela cidade.



JacintaDantas 

19 comentários:

lula eurico disse...

Moça bela, do nome de flor,
também andei preocupado com as chuvas, e, em especial, com nossa Mai, que habita Nova Friburgo.
Mas, ela já deu notícias.
E está bem, junto com a família.
Lamento pelos que não conseguiram escapar...

Deus esteja com todos.

orvalho do ceu disse...

É querida, Jacinta
A Região Serrana cheia de flores belas fica agora tomada pela lama...
Seu post está magnífico... não posso deixar de apreciá-lo mesmo tendo o coração enlutado pelos vitimados dos segmentos que mencionou em seu post.
Bjs com o meu desejo de que tudo se normalize logo.

Paula Barros disse...

Entre a sujeira e a beleza, que bom que a beleza ainda nos toca, e nos faz querer despertar, desabrochar para fazer o bem.

Quanto a cuidar das cidades, cuidar do outro, sempre me preocupo mais um pouco, quando percebo que a maioria de nós não temos o cuidado conosco mesmo. Seja com a alimentação, com a bebida, fumo, o sexo sem camisinha...e tantos outros cuidados que não temos, então como cuidar do outro? como cuidar das cidades? Sempre me questiono quanto a este aspecto. Porque acho que a lama é bem mais profunda, a lama que nos soterra e sufoca.

Mas é longo este pensar.

beijo e vamos agir...

E gostaria de lhe dizer que sempre admiro esta sua forma de escrever, entrelaçando pensamentos.

Claudinha ੴ disse...

Grande texto! Grandioso saber! Se todos tivessem este olhar sábio, se soubessem aprender com os recados da natureza (Deus sempre deixa pistas para a gente ser feliz) , o mundo estaria bem melhor! Beijos!

Luis Eustáquio Soares disse...

o cuidado é a única verdade
a única lei
o cuidado a tudo que morre
deve ser a única
sentença de vida.
na falta dele,
tudo o mais, que não seja ele,
que não o instigue,
é trapaça,
farsa,
tragédia.

beijos
de la mancha

layla lauar disse...

a flor simboliza a esperança... pois o que agora parece ser o fim, pode ser um novo começo, espero e desejo que seja assim!

belo texto!

beijos Jacinta

Marcelo F. Carvalho disse...

É isso, Jacinta! É isso. A beleza continua nas pequenas coisas ou naquela foto guardada em nosso coração. Vivamos e sigamos, pois. É sempre preciso recomeçar.
______________________
Abraço forte!

AlegriadeQuerer disse...

hola que lindo es estar por estos aires!!!!

Dilberto L. Rosa disse...

Ver uma flor entre valões abandonados e enxurradas que varrem pessoas por meio de suas águas: já sentes, Jacinta, um renascer porque vês vida onde há abandono, otimismo no lugar de desesperança e poesia onde há morte... Belo texto, poetize sempre! Abração!

Zélia Guardiano disse...

Jacinta
Muito feliz com sua visita, com seu comentário, vim correndo conhecer o teu espaço, que encantou-me!
Tudo muito lindo, aqui!
Este texto maravilhoso, lindamente ilustrado , emocionou-me sobremaneira.
Adorei ter te encontrado!
Enorme abraço da
Zélia

Benno disse...

a flor é como a esperança: sempre insiste em brotar, não se importando o tamanho da devastação que nos assola... quando a chuva varre a beleza (e vidas) resta ainda a flor e a esperança ... e não há como deixar de ter esperança quando a gente vê a flor da solidariedade brotar espontâneamente em nossos corações, de ter a certeza de saber que apesar de estarmos quase perdidos, ainda não estamos.

Clecia disse...

Olá, Jacinta! Tudo bem? Acabei de ler seu comentário no meu blog (Meu Mar Azul). Fiquei muito feliz com a sua visita. E cá estou conferindo o seu cantinho. Amei! Que flor bela esta da imagem! E gostei dos seus trabalhos também! Um abraço!

Jens disse...

Oi Jacinta.
Em meio ao lodo, a dor e ao nojo, nasceu uma flor amarela. É a vida querendo um jeito de resistir. Como na canção: "é preciso saber que agora a aurora não pode esperar por vir".

Beijo pra você.

Jefferson Bessa disse...

A revelação que, pela flor, se abre para o momento e para o eterno.
Jacinta, um prazer conhecer seu blog.
Um abraço.
Jefferson.

Eu disse...

Precisamos realmente cuidar melhor do que nos cerca... O ser humano precisa cultivar melhor valores.

Um beijo carinhoso para você

Anônimo disse...

se nossas mãos podem trabalhar a terra e dela nascem não apenas o que se considera essencial à vida, mas também o que ela tem de belo por certo também nossas mãos pdoem cuidar da Terra para que ela continue sendo nossa casa. muito reflexivo e sensível, Jacinta. meu abraço carinhoso.

Lua em Libra disse...

Jacinta, querida

Pra começar, uma belíssima foto. Adoro Alamandas, também. O texto? Faz pensar, faz pensar, faz pensar.
Beijo, adoro te ler.

Nilson Barcelli disse...

Se todos tivessem o teu olhar, essa catástrofe não teria acontecido.

Excelente texto. Parabéns pela forma e pelo conteúdo do teu texto.

Querida amiga Jacinta, bom resto de semana.
Beijos.

Lúcia disse...

Jacinta,
É, quem sabe, sabe. Colocar poesia nas tragédias que temos vivido é olhar com sensibilidade para nossas mazelas. É o que falta para que possamos acordar e perceber que já chegamos ao caus por nós mesmos criado e agir, agir.
Parabéns pela profundidade e delicadeza com que você escreve.