Foto: Andreia Gavazzoni
Palavras...palavras...palavras...discursos: Caso Isabela, últimos acontecimentos na China, o pai que aprisionou a filha, o acidente de trânsito, as discussões sobre o direito das mulheres. E seguem com suas sentenças. Haja fôlego para tantas palavras. Eu ali, querendo não falar de assunto nenhum, querendo ficar quieta – eu comigo – entre o acorde que foi e o acorde que virá, ouvindo minha própria música, sem me explicar, apenas vivendo a aventura de existir. Diante da exigência de interação, levanto-me, explico que não gosto de conversar quando estou deitada, pois quero preservar as pregas vocais (fato que tem lá seu fundo de verdade nas minhas crendices) e, ignorando os discursos que continuam, volto à minha “concentração”. Inspiro pelo nariz e sopro o ar, bem devagarinho, pela boca; inspiro e sopro, inspiro...sinto o ar tomando conta do seu instante passageiro espaço em mim, e presto atenção no umbigo: ele tem que ficar ali, contraído, firme. Já nem escuto ao comando de contrair o abdômen, umbigo nas costas, inspirar e soltar, simplesmente faço, vou fazendo, entregue ao movimento.
É, tenho olhado para o meu umbigo. Descubro que, longe de ser uma atitude individualista ou egoísta, como me fizeram acreditar, é sim, uma atitude de busca de equilíbrio na criação de meus próprios acordes. Então, olho para o umbigo. Preciso fortalecer minha "caixa de força" para sair desse estado de grávida de mim mesma e fazer o parto - parto normal, sem anestesia, Eu comigo. Nascendo, de novo, atualizo-me e abro possibilidades para que venha uma nova mulher no corpo que agora se aceita inteiro, consciente de seus vários instrumentos, cada um com seu som, diferentes sons e de igual importância que juntos, compõem a orquestra afinada que me constitui pessoa em coração, pernas, braços, pé, olhos, ouvidos, garganta, respiração, pulmões...
Aos discursos, o tempo e o lugar adequados. Volto para o meu umbigo, a respiração rege a orquestra: quanto mais consciência tenho de mim, mais equilíbrio, harmonia e beleza para a melodia tocada por todos os membros que formam o que Sou.
38 comentários:
Viagem ao fundo de nós mesmos.
Lindo, alegre, triste, profundo.
A letra do dia.
Grande beijo!
Jacinta. Estava mesmo a pensar na minha mulher: "EU". Joice! Como me quero tanto, como aprendi tanto, como não tolero certas coisas mais em minha vida. Tenho me dado conta de falsos amigos, tenho me deprimido por atitudes de pessoas... notícias terríveis e coisas que tais. Hoje me apeteceu dar um grito. Um basta. Sair voando para longe de tudo, só para pensar. Que coisa...
Será a Síndrome da idade chegando?
Hora de mexer na consciência e de começar a escolher melhor o que ficará para o resto da minha vida...
Se não fosse a linda família que tenho, partia já para um lugar sagrado qualquer. Não era preciso ser sagradamente religioso, tinha que ser cheio de paz natural e que me aceitasse ali... em silêncio!
Ufa!
Desabafei. Obrigada!
(Sua receita do medo é a nº 4)
Beijos, vou ali chorar um bocadinho... (risos)
Jacinta, com sua licença.. vou lavar minha mente e alma nesse seu texto, já que não tive competência para traduzir em palavras tudo o que vc disse aqui. Um bravo feliz e emocionado! Beijos. Bom sábado.
Essa reconstrução no ser, ou seja, em nós é uma constância para que possamos entender o caos em que vivemos. Tua crônica é uma deliciosa refeição para ser comida pelos olhos. Bjos querida.
Jacinta,
Convido vc e todos seu visitantes para ler um poema que postei em homenagem ao dia das mães.
Abraços,
Jorge ELias
Passando para lembrar que,em 16 de maio, sexta-feira, teremos COISAS DO BRASIL! Bom final de semana!
Belo texto, esse do umbigo. Talvez, se fizéssemos tais leituras diariamnete, o mundo talvez girasse mais leve e melhor. Obrigada pela agradável visita ao espartilho de eme.Beijos
É verdade Jacinta, o mundo anda de cabeça para baixo. E essas coisas que andam acontecendo fazem com que a gente pense,reflita e analise o ser humano de forma diferente, e na verdade nem podemos dizer que isso é coisa recente, pois muitos já aconteciam anos atrás, sem que ninguém sequer imaginasse...e buscar o equilíbrio talvez seja a melhor maneira de conviver com tudo isso, feliz dia das mães...um abraço e um beijo na alma...
Impressionante minha identificação com esse texto.
Há tempos tomei a decisão de usar meu umbigo como refúgio.
Alienado? Talvez. Mas com forças para enfrentar o mundo.
Somos diariamente duramente bombardeados por palavras, discursos, violência e nem sempre temos condição de nos proteger disso. Essa viagem ao redor do umbigo é uma excelente sugestão. Sem contar que o texto, muitíssimo bem orquestrado, deixa entrever o ato triunfal do parto natural, que trará à luz uma orquestra afinadíssima em seus instrumentos e em seus participantes. Que não se deixaram tocar pelas imundícies do dia-a-dia. Belíssimo texto. Parabéns.
Tenho ultimamente como companheiro de meus devaneios meu umbigo também; aliás o umbigo e o espelho...E meus parafusos e porcas soltasé claro.
Procuro neles partes de mim mesma; muitas vezes em busca de respostas, muitas vezes em buscas de novas perguntas...Mas na maioria das vezes sem busca alguma...
Beijo grande de domingo...
Feliz Dia das Mães...Ou como vc mesma disse Feliz dia de todos!
É Jacinta, todos nós, vez ou outra, precisamos fazer essa viagem ao fundo do umbigo. Só assim, nos reconhecendo, podemos conhecer melhor os outros e entender um pouco esse mundo louco.
Bjos!
mais um belíssimo texto seu, gostaria de ter a sua capacidade com as palavras e também essa, de mergulhar no meu umbigo, voltar a me sentir acalentada e protejida no ventre materno...
Um beijo grande querida, feliz todos os dias.
Olhar pra dentro só faz bem... faz aprender, faz crescer e ainda por cima levanta a auto-estima quando percebemos o quanto podemos oferecer de bom para o mundo.
Um beijão.
;)
e que bem sabem de vez em quando essas viagens ao fundo de nós mesmos. precisamos de gostar de nós , de nos conhecermos para nos permitirmos aos luxo de nos darmos e conhecer aos outros.
Egoísmo nada, equilíbrio na sua forma mais pura. Covém é saber o caminho de volta ...
um beijo
Tenho no meu canto prémio das nuvens e uma pequena árvore para ti
outro
A Regência do EU é a mais difícil. Quem pode conhecer o próprio coração? Doce ilusão... Mas quando a gente acerta os ponteiros se descobre um pouquinho. Daí, fica melhor.
Há braços, Jacinta!
Querida Jacinta, sua prosa esclarece e nas entrelinhas alerta para o perigo que corremos em nos deixarmos levar pelas correntes negativas que assolam o mundo. Centrar-se no "umbigo" é ancorar-se em um de nossos principais centros de força, que nos permitirá lidar com essa torrente que às vezes parece querer nos tragar... Obrigada pela reflexão. Beijos e obrigada pela sua visita ao meu bloguinho.
Olá Jacinta!
Foi pelo blog do Paulo que cheguei aqui. Eu tiro umas e outras madrugadas mais ociosas para ler blogs e te confesso que adorei o seu. Raramente costumo comentar, só quando gosto mesmo. E como gostei do seu blog, permita-me tecer um pequeno comentário:
É a primeira vez te leio algo seu, até parece que você é escritora, pois mesmo não te conhecendo eu diria que você possui uma fluidez dos teus escritos e que faz o teu leitor se emocionar de verdade e se identificar... esse seu texto me fez pensar no quanto também ando cansada...Cansada das mesmices, de esperar alguém dizer algo novo e diferente, de me esperar dizer algo novo e diferente. Ando cansada, cansada dessas histórias de guerra, desses sensasionalismos, dessas ausências de sentido, dessas ausências de tudo …Cansada, sobretudo, do nosso país! =P E acho que eu também ando precisando olhar mais pra mim, mais pro meu umbigo tb...
obrigada pela reflexão...
e parabéns pelo blog
Abraços.
Bela e necessária caminhada para dentro de si.
Renascerá, sim, inteira e forte...
beijos, boa semana para você.
Olá Jacinta! Agradeço também a visita e o comentário!
Com certeza voltarei mais vezes aqui ...
Boa semana pra ti,
Abraços.
a vida começa dentro de nós mesmos, assim podemos compreender o lado de fora. gostei imenso do texto e da reflexão que proporciona. grande abraço.
Eu também acredito que todos nós temos sim que termos esses instantes com nós mesmos, livre de qualquer intervenção exterior... E nem por isso ser anti-social ou menos preocupado, é sim essa necessidade de ouvir essa melodia maviosa que é sibilada pelo de melhor que está contido dentro de nós... beijos
Necessidade visceral, essa de se voltar para o proprio soma. Respirar fundo e sair dessa cidade de loucos mórbidos. Não, não é alienação, nem fuga, é a busca da saúde, da harmonização que, infelizmente, a grande massa não tem e não percebe.
Saudações fraternas.
Muita paz!
Eu acho que olho demais para o meu umbigo também =S
Belo texto!
Bjos
Certo. "Conhece-te a ti mesmo". Antes de partir para o conhecimento do outro. Estar "centrada" para poder entender a realidade. Ser inteira para compreender a fragmentada existência!
Gostei dessa concentração.
Beijos, beijos!
Dora
Jacinta!
O mundo que nos cerca exige que sejamos muito fortes e nem sempre estamos preparados para entender e digerir o que por aí se faz acontecer.
Encontrar-se. Olhar o umbigo. Teu texto é uma linda sonata que toca todos os andamentos da vida. Belas palavras: profundas, sinceras...Verdadeiras. Um parto. Nova luz!
Bj
sim, amiga, existem muitos modos de equilibrar-se na corda bamba de ser e de estar, e o seu, como um dentre outros, é legítimo e digno, respiração de de lótus-poema.
b
luis
Hoje estou muito bem disposta, por isso quero apenas partilhar esta emoção deixando aqui um grande beijinho. Quero desejar-te uma excelente semana e agradecer as palavras e amizade que tens depositado no meu...caos.
Até breve!
;O)
Jacinta,
Como você sabe, "olhar para o próprio umbigo" significa que a pessoa só pensa em si mesma. Mas olhe, há aqueles momentos em que precisamos, principalmente neste mundo perverso em que vivemos, ficar sozinhos, lendo um bom livro, assistindo um bom filme e ouvindo uma boa música. E (porque não?) ficar olhando para o próprio umbigo. Um abraço afetuoso.
...sim! Fortalecer o centro do nosso corpo... Gostei muito do seu texto! Realmente a respiração consciente é o segredo que conduz as emoções...Beijos de carinho e um dia feliz!!!
Quem sabe transferimos esta busca do equilíbrio, este olhar o seu próprio umbigo para nossa sociedade, nossa cidade nosso país, para o mundo, e, assim consigamos mais harmonia no nosso viver.
Bj, Jacinta
Amiga querida
Amei saber que você está finalmente olhando para o seu umbigo!
Tenho certeza que fará descobertas maravilhosas.
Estou de volta. Tentando colocar a vida em dia.
beijo grande
Essa busca não é mais fácil por que condicionaram nossa mente para encontrar equílibrio e felicidade em coisas que possam ser materialmente mensuráveis!
Imagine só que leviano!
Condicionar nossa felicidade a algo que não nos pertence de fato.
Buscar encontrar-se é um parto, realmente!
Mas o encontro com a vida em plenitude é o maior presente dessa experiência!
Boa sorte!
Jacinta!
Que texto!
Tô sem fôlego. Li, reli e reli.
Senti a respiração, a angustia, a vontade, a renovação, o ser.
"Preciso fortalecer minha 'caixa de força' para sair desse estado de grávida de mim mesma..."
Nascer do seu ser para finalmente ser.
Ser.
Simples assim: ser.
Bravo!
Bjo,
Luci:)))
Uma busca imprescindível do que se É. Bj
"Que venha esta nova mulher de dentro de mim..." Lindo texto Jacinta. Como sempre, profundo e bonito. Todos nós, inclusive os homens nos sentimos às vezes "grávidos de nós mesmos". LINDO!
há tanto estardalhaço da mídia sobre esses assuntos que você citou. lembro que, em certa reportagem, a jornalista se refere ao "caso isabella" como "o fato que sensibilizou e moveu o Brasil inteiro". fico imaginando se foi o fato ou se foi a mídia, que não cansa de explorar o assunto. ficam repetindo, repetindo as mesmas informações com nova embalagem, "ares" de novidade, mas nada de concreto.
feliz texto. tb sou assim, centrado, refugiado dentro de mim.
bjuz
É quase impossível ser alguém com consciência tranqüila sem olhar para nosso umbigo e sem olhar para o umbigo do mundo. Para mim essas palavras que cansam nossas cordas vocais são meu peso na consciência, de saber que há milhares de crianças que morrem todos os dias por circunstancias diversas e a mídia só faz as pessoas lembrarem de Isabela. abraço.
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